quarta-feira, 8 de março de 2017

Silêncio | Crítica

Por Unknown   Postado em  13:20   crítica Nenhum comentário

Novo filme de Martin Scorsese mostra conflitos religiosos e pessoais.
No século XVII o Japão passava por um momento muito curioso e indagador de sua história; a negação de qualquer indício do cristianismo em seu território. Cristãos eram capturados e forçados a vivenciarem momentos terríveis com torturas inimagináveis por causa de sua crença em Deus, assim sendo postos a prova de sua própria fé.

Silêncio, dirigido pelo aclamado Martin Scorsese, adapta o romance do japonês Shuzako Endo, publicado pela primeira vez em 1966, que trazia a tona os duros acontecimentos daquela época - século XVII - e levava o leitor a refletir sobre o cristianismo e suas dificuldades de permanência no território japonês.
Fascinado pela história, Scorsese se sentiu movido por forças inexplicáveis e sua vontade de fazer o filme acontecer há anos, e em 2016 finalmente conseguira lançar a adaptação cinematográfica.


O filme nos mostra dois padres jesuítas, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garpe (Adam Driver), que acabam partindo de Portugal para o Japão em busca de seu Padre "líder", Cristóvão Ferreira (Liam Neeson), que supostamente havia negado sua fé em Cristo ante as torturas que seus irmãos japoneses estavam passando.
Sebastião e Francisco decidem investigar essa situação eles mesmos, partindo então para o Goa, um vilarejo japonês, lugar onde a presença de qualquer cristão era expressamente proibida.

Lá eles conseguem viver escondidos com kirishtans (cristãos), um povo que necessitava da presença de lideres religiosos para conseguirem firmar sua fé, nas não tinham esse direito devido tais circunstâncias do governo japonês.

Isso é apenas o começo da jornada dos dois padres, que se veem realmente numa situação questionadora quando os próprios governantes do inquisidor Inoue colocando à prova a fé de todo aquele povo, com atitudes cruéis e desumanas.

O filme consegue prender muito nessa parte inicial. O diretor não tem modismos e faz um bom trabalho com os fatos apresentados. Andrew Garfield não deixa a desejar em momento algum, em todo o filme ele consegue mostrar que seu personagem sofre internamente, com conflitos pessoais e religiosos, o que leva o espectador a se questionar sempre, especialmente quando o filme se encaminha para o final.
Apesar de coadjuvantes, Adam Driver também entrega um bom papel e mostra bem as relações do personagem com as situações do filme. Liam Neeson, que tem pouquíssimo tempo de tela, também não deixa a desejar. A escolha dos papéis foi certeira em todos os sentidos.
Yosuke Kubozuka, que interpreta Kichijiro, é quase que um alivio cômico nos momentos de tensão. E por fim, Issey Ogata, o inquisidor Inoue, transmite o ar de soberba do personagem com uma leveza impressionante, um vilão muito interessante.

Apesar de estarem muito bons, não da pra entender se Garfield e Driver tentaram fazer um sotaque português enrolado em seu inglês e isso incomoda, é inconstante. Mas não influência em nada na história.

Em contrapartida com os momentos iniciais - que prendem muito o espectador - quando o filme passa da metade as coisas começam a desengajar um pouco. O ritmo cai, fica muito mais lento chegando a beirar o tédio, mas felizmente volta a ficar interessante no último ato.
As questões do filme que aparecem desde o começo continuam acontecendo, e novas não param de surgir. Questionamentos sobre fé, religião, catolicismo, Deus e os homens de Deus são o foco principal de Scorsese, e as vezes nem da pra entender direito o que ele quis dizer com tudo o que é mostrado, e pode parecer péssimo, mas é uma experiência única de indagações e dúvidas.

Não posso deixar de citar a fotografia do filme por Rodrigo Pietro, que é bem feita, linda e muito importante pra história.

Silêncio é um ótimo filme, que em muitos momentos parece se perder propositalmente para levantar questões sem respostas sobre Cristo e religião, mas com uma sutileza e transcendência que Scorsese consegue transpor.
É um filme silencioso, musicalmente falando - não tem trilha perceptível, é bem disfarçada - e também em termos de história. E talvez, as respostas que você encontrará nesse filme estão realmente nesses silêncios. Me desculpem, mas não há como finalizar esse texto sem essas palavras do próprio Scorsese: "Silêncio é a história de um homem que aprende - tão dolorosamente - que o amor divino é mais misterioso do que imagina; que Ele deixa muito mais aos caminhos humanos do que percebemos; e que Ele está sempre presente... Mesmo em Seu silêncio."

Título: Silence
Duração: 2h40m.
Direção: Martin Scorsese
País: EUA
Nota do IMDb: 7,5/10
Rotten Tomatoes: 84%

0 comentários:

Voltar para o topo ↑
Nos siga por aí

© Nerd Nas Estrelas.
Thanks, Ron.