Claramente um Tim Burton para crianças.
De cara, já deve-se ressaltar que adaptação cinematográfica do livro "O Orfanato da srta Peregrine Para Crianças Peculiares" dirigida por Tim Burton não é completamente fiel, então, analisaremos ao filme sem comparações com a obra literária.
Talvez a atual era heroica vivida nos cinemas precisasse de um respiro com um gênero de filme como O Lar das Crianças Peculiares. De fato, ninguém além de Tim Burton poderia ficar a frente desse projeto. A pergunta é: ele fez bem feito?
Vamos do inicio. O filme mostra a história do garoto Jake (Asa Butterfield), o típico adolescente fracassado sem amigos. O avô de Jake, um personagem muito forte e essencial para a história, talvez tenha sido o culpado pelo menino ser assim meio isolado. O velho narrava histórias estranhas para o menino quando era criança, mas que ele garantia que era verdade. Ele dizia que vivia em um lar para crianças que eram especiais, diferentes, e que eram perseguidas por humanos comuns na Guerra. Super-força e invisibilidade eram algumas das peculiaridades dessas crianças. Isso mesmo, peculiaridades, e não super poderes.
Nessa parte da história a analogia com a segunda Guerra é clara para quem entende. As crianças "especiais" são uma referência aos judeus que precisavam fugir dos soldados alemães e que se alojavam em abrigos. É um bom método de mostrar muito, mas muito por cima mesmo, como foi a perseguição nazista.
Continuando a vida de Jake e seu avô. O menino é inserido nesse mundo misterioso quando coisas estranhas acontecem com seu avô, e ele decide descobrir o quê. Acaba indo, com o conselho de sua psicóloga, para a ilha onde ficava o tal lar, e acaba descobrindo que esse lar na verdade é uma fenda temporal, e eles estão em outra linha do tempo, em 1943. Essa ideia já é difícil de se lidar, mas felizmente o filme consegue explicar, não muito bem, mas consegue.
No orfanato mágico, Jake conhece as crianças com esses dons paranormais, e não vamos aprofundar muito na trama para não dar spoilers.
A história em si tem muito potencial. Esse que não parece ser muito aproveitado pelo diretor Tim Burton, que já tem sua marca em diversos filmes como Alice no País das Maravilhas, A Noiva Cadáver, e até mesmo o bizarro Os Fantasmas se Divertem, de 1988. "Bizarro", um adjetivo que todos esperavam que o filme seria, e muito, mas não é bem assim... Na direção do filme até sua metade, há bastante suspense e até um terror leve, e seria o tom que mais encaixaria no filme todo, mas a partir do meio para o final todas as soluções para os problemas são jogadas, rápidas e até mesmo avacalhadas em algumas cenas.
Não deve-se assistir o filme com a esperança de um Tim Burton inovador-esquisitão, e sim um Burton que quis fazer o esquisito mas bem na média mesmo.
Aliás, dá pra perceber que o filme tinha um imenso potencial para ser muito diferente, muito surreal, até mesmo pela história do livro, mas não é nada demais.
Isso tudo não significa que o filme seja ruim. Se o objetivo é diversão, dá certo. Em poucos momentos há cenas que prendam o espectador naquele universo, e esses momentos são essenciais para conquistá-lo para a história.
Apesar de ser muito longo, não há uma distribuição de tela correta para todos os personagens, o que é uma pena porque cada peculiaridade ali daria um bom arco no filme. Não necessariamente todas, mas seria legal de ver uma ou duas das crianças sendo mais desenvolvidas na história, porque dá a impressão de que elas estão ali só para dar apoio a história de amor entre Jake e Emma Bloom. E é interessante notar que aqui há dois extremos, enquanto Ella Purnell vive de fato a personagem, há um Asa Butterfield que não se entregou tanto ao seu.
Do mais, Samuel L. Jackson é um bom vilão infantil, bem explorado pelo filme. Eva Green (a senhorita Peregrine) é uma ótima "mãe de todos" e uma personagem excelente para deixar aquele universo crível. Cada criança do elenco também foi bem escolhida, uma pena que, como eu disse, não foram bem desenvolvidas.
Os efeitos do filme não são suficientes para fazer com que quem assista mergulhe de cabeça naquele universo que nem se leva tão a sério, mas a atmosfera toda é legal. A propósito, tem que mergulhar mesmo de cabeça pra gostar 100% do filme. Entender que não é um filme excêntrico demais, e que é um filme feito para crianças, mas que pode divertir se ir pra sala do cinema com esse pensamento.
Apesar de tudo, vale a pena assistir o novo filme de Tim Burton. Não diria que é perda de tempo, porque a mitologia toda por trás é até interessante, por mais que não tenha sido bem explicada.
O que me resta agora é pegar os livros e conhecer de fato esse universo criado por Ramson Riggs.
Título: O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine's Home for Peculiar Children)
Direção: Tim Burton
Duração: 2h07m
Nota do IMDb: 7,3 / 10
Rotten Tomatoes: 63%
Avaliação do Nerd: ✫✫✫ [a avaliação do Nerd vai de
✫ (uma estrela) a ✫✫✫✫ (cinco estrelas)].
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