quinta-feira, 6 de julho de 2017

Soundtrack | Crítica

Por Unknown   Postado em  11:06   crítica Nenhum comentário



“Um horizonte limpo, nada com o que se preocupar...”  
 Foi o que Alfred Hitchcock começou dizendo quando questionado sobre qual era sua definição de felicidade. Ele falava sobre criatividade, sobre relações humanas, emoções e sensibilidade. Faz todo sentido que em uma cena de Soundtrack apareça essa citação, diga-se de passagem, maravilhosa, pois o filme todo e a trajetória do personagem em si tem muito a ver com todos esses elementos
.
Soundtrack nos apresenta Cris (Selton Mello), um rapaz fotógrafo que viaja até o sul do mundo numa base de operações científicas em prol de realizar o ápice de seus trabalhos artísticos; tirar auto-retratos ouvindo músicas no meio daquele cenário gigantesco de gelo, para quando houver a exposição de seu trabalho, as pessoas ouvirem as músicas que ele estava escutando e entender o significado de sua viagem. Porém, logo na sua chegada, Cris enfrenta problemas de relações com a equipe de pesquisa. Huang (Thomas Chaaning), Rafnar (Lukas Loughran), Mark (Ralph Ineson) e até mesmo Cao (Seu Jorge), o único brasileiro na base além de Cris, não se sentem muito confortáveis com a presença do fotógrafo. 

Duas funções extremamente distintas. De um lado, um rapaz que quer tirar fotos de si mesmo para uma exposição, e do outro, cientistas que estão há muito tempo trabalhando, e que só terão o resultado de seus trabalhos e pesquisas dentro de um século. Imediatismo e processo. Sentimentos e resultados. Arte e ciência. Contradições extremamente presentes nos relacionamentos dos personagens, e que se refletem principalmente entre Cris e Mark. Ralph Ineson faz um excelente papel de um homem cansado, que está longe de sua família, que deixou sua esposa grávida de 6 meses em prol de seu trabalho, mas que apesar de tudo, possui sentimentos pelo que faz, pela ciência.


Todo esse conflito dos personagens é muito presente no início do filme, até nós, espectadores, nos permitimos sentir um pouco de desconforto, mesmo porque não sabemos de inicio quais são os objetivos de Cris, não sabemos nada além daquilo que ele nos falou. E isso é um ponto a elogiar nos roteiros e na direção; o fato do filme não apresentar flashbacks (existem um ou dois), e optar por nos mostrar a história fechada somente naquele lugar e naquela situação específica, possibilita o entendimento de tudo através de diálogos e elementos de roteiro, o que é fantástico. Pelo mesmo motivo, a situação das relações entre Cris, Mark, Cao, Rafnar e Huang vá mudando gradativamente. Até mesmo as ideias de quem assiste podem ser diferentes, e mudarem ao longo do filme. Mas falando nos personagens; todo o elenco foi extremamente eficaz. Talvez isso aconteceu por só existirem eles ali o filme inteiro e isso pode ter sido uma vantagem de cada um conhecer seu personagem melhor, mas ainda assim, em nenhum momento percebe-se uma drástica falha de atuação, estão todos na linha que o filme oferece. Em um momento ou outro não fica muito clara a motivação dos personagens, como por exemplo a do próprio Cris, mas surpresa; não é mérito e nem demérito dos criadores, tudo é tão sensível e melancólico que é possível entender, mesmo que seja na sua própria visão. Sobre a produção; mais um ponto para o filme. O cuidado foi tanto que quase não se percebe que o filme foi rodado na verdade num estúdio, com poucas cenas gravadas em ambientes externos. Algumas cenas foram feitas completamente em computação gráfica (algo que me surpreendeu quando Júlio, um dos produtores revelou na coletiva de imprensa). Pra deixar claro o que eu to falando, preste atenção na cena do triturador de gelo, aquele enorme veículo que é muito real e palpável – não parece CG.

Em alguns momentos (poucos, mas pontuais) de Soundtrack é possível sentir uma leve aflição, e isso é mais um mérito dos diretores por pontuarem muito bem a sensibilidade dos personagens e do cenário extremamente ameaçador. A opção por um lugar isolado do mundo reflete justamente o que o filme em si quer dizer; o isolamento e as relações entre áreas diferentes, objetivos diferentes, e pessoas diferentes.

E sobre a “trilha sonora”? Afinal, é o título do filme. A resposta é; tudo isso não se limita apenas na arte da música. Ela é uma parte de um inteiro que permite muitas sensações diferentes. Um tremendo auxiliar na trilha das nossas jornadas. A música, que é de fato presente no filme no formato de trilha, não é na verdade o foco, até porque, repito, a trilha pode ser a não trilha sonora, a não presença da música, e sim a jornada do personagem, uma parte e o desfecho de uma história.
Soundtrack é um filme sensível, sobre pessoas e suas relações, “um filme tão humano numa época desumana”, nas palavras de Selton. É uma histórica fechada, uma parcela da visão que podemos ter de mundo, num ambiente fechado e isolado do resto de tudo. Mas ainda assim é uma história universal, com tipos de relações que acontecem no dia-a-dia. Quebra de preconceitos, amizades, sensiblidade, ciência, arte... um misto de elementos que formam uma boa história e uma boa experiência num filme.


Título: Soundtrack
Direção: 300ml
Ano: 2017
Avaliação do Nerd:





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Thanks, Ron.